O QUE EU DEVERIA DE SER
Ouvindo o que sou seria
Se desejar fosse ser...
É uma simples melodia
Das que se aprendem a viver...
E ouço-a embalada e sozinha...
É isso mesmo que eu quiz ...
Perdi a fé e o caminho...
Quem não foi e é feliz!
Mas é tão consoladora
A vaga e triste canção ...
Que a minha alma já não chora
E nem tem coração ...
Sou uma emoção sem caminho
Um erro de sonhos que passou...
E acabo com um sentido!
No relógio que atrazou...
Toda a gente que aqui morou...
Tendo que esperar! Tendo que confiar!
Ter dito aquilo outrora a cidade a esperar
E ainda é uma grande coisa por ironia.
Desmentir esta fantasia!
Há um frio e um vácuo no ar.
Que está tudo a pairar,
Cinzento-preto, o luar.
Luar triste antes de amanhecer,
De outro dia e sua brisa
Esperança e inútil no entardecer
É como a morte de alguém
Que era tudo que a alma tem...
E que não era ninguém.
Cai uma tarde qualquer,
Do campo vem a fragrância
De campo eu deixo de ver.
Um sonho meio sonhado,
Em que o campo transparece,
Está em mim, está a meu lado,
Ora me lembra ora me esquece,
E assim neste ócio profundo
Sem males vistos ou bens,
Sinto que todo este mundo
Lá fora onde há árvores tambem
O que se mexe a parar
Não vejo nada senão,
Depois das árvores, o mar.
É azul intensamente querendo brilhar!
Um suspirar pra dormir.
Mas nem durmo eu e nem o mar,
Nós ambos , no dia brandos,
E ele sossega e eu descanço!
E eu não penso e estou pensando.
Elas dizem-me que sim...
Mas eu já não sei de mim
Nem do que queira ou que possa.
E o alto frio das ervas
Fica no ar a tremer...
Parece que me enganaram,
E que os ventos me levaram,
Para me convencer...
O que deveria de ser!