Houve um tempo em que, MEU DIÁRIO, significava um caderninho, de capinha dura, colorido e enfeitado, trancado com um cadeado e uma chavinha, que as meninas traziam pendurada aos seus pescoços juvenis.
Ali, se guardavam sonhos, anseios, devaneios, confissões, pétalas de flores emarelecidas e secas, páginas perfumadas, tudo escrito em caneta esferográfica, pureza e romantismo, indagações, descobertas e lembranças...
Estava representado num ato quase ritualístico, a amizade entre os segredos e suas confidentes, e ai de quem se atravesse a violar tal regra de uso... as mocinhas ficavam rubras e sentiam - se invadidas em suas privacidades, ainda vacilantes e aprendizes.
Tudo era manual, guardado na gavetinha das mesinhas de cabeceira, onde o abajour se apagava, juntamente com os olhos, tantas vezes marejados ou repletos de esperas, esperanças e suspiros apaixonados.
Hoje, tudo mudou, o diário é partilhado, a era é virtual e o perfume daquela época, creio que não se consegue transmitir por computadores, ficaram apenas nas doces recordações de um tempo remoto.
Mas, de repente há um recanto, que devolve-nos um pouco daquelas sensações, e em comum, revelam os textos, as poesias, a criação. Tudo agora é partilha. Já não há chavinha, nem cadeado, a porta está aberta...podem entrar!